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O voo solitário da “borboleta” na difícil arte de governar



Desde 1985, no fim do ciclo dos prefeitos “biônicos” de Natal, ou seja, escolhidos indiretamente pelo regime militar, no período de exceção no Brasil, que ninguém conseguia o feito atingido até aqui pela jornalista Micarla de Sousa (PV). Ela é quase uma unanimidade negativa.
Campeã de rejeição pessoal em pesquisas que sondam disputa sucessória de 2012, Micarla também tem seu governo reprovado maciçamente pela população.

Como explicar tamanha catástrofe?
Em seus discursos em forma de ladainha, desde o princípio da gestão em janeiro de 2009, só aparece um espectro em sua frente: o ex-prefeito, de quem chegou a ser vice, Carlos Eduardo Alves (PDT).
A “síndrome do retrovisor” e o “complexo da transferência de culpa” fazem parte do cardápio de justificativas que gestores costumam apresentar, à opinião pública, conforme a cultura política deste país. É sempre mais fácil do que fazer um “mea culpa”.
Com Micarla não é diferente. Entretanto a estratégia virou psicose, rapidamente rejeitada pela opinião pública de uma cidade conhecida por sua indolência diante de amarras. “Natal não é de ninguém”, rotulou-a tão bem o então candidato a governador em 1960, deputado federal Djalma Marinho.

A mesma cidade que Micarla conquistou numa campanha emblemática em 2008, lutando contra forças do município, Estado e até o presidente Lula em palanque adversário, com sinais de embriaguez, já a vomitou. Não a suporta mais e reage à sua permanência na prefeitura, das mais diversas formas.

Da Internet às ruas, de manifestações democráticas e ordeiras a atitudes de submundo, a revolta popular deixou de ser pontual e político-partidária, para rapidamente ser uma manifestação orgânica e cívica.
A gestão de Micarla talvez comece a ser entendida por sua retaguarda e “entourage”. Em momento algum, nesse tempo de governo, ela revelou capacidade de liderança e preparo à gestão. Além disso, chegou à municipalidade sem quadros técnicos e políticos de sua confiança, à tarefa que nunca tinha empalmado.
De saída, ficou refém do DEM do senador José Agripino e outras forças que a apoiaram, repetindo o costumeiro loteamento do poder. Sem respostas às principais demandas sociais, com o passar do tempo foi submergindo mais ainda em suas próprias limitações, como um elefante em areia movediça. Qualquer movimento, é fatal. Continua atolada.

Como no futebol, a administração pública cobra bom “técnico” e equipe afinada, sincronizada, preparada, para vencer. Micarla promoveu ao longo de pouco mais de dois anos, o maior “queima” de auxiliares da história pública natalense. Mudou secretários no atacado e varejo; nomeou, exonerou e remanejou peças freneticamente. São cerca de 50 nomes na dança de cadeiras.
Hoje, ela está praticamente só.
Resta-lhe o que sobrou de suas forças, agora baseadas tão somente no que a caneta pode proporcionar a vassalos e chacais, além de uns poucos seguidores com fidelidade de eunucos. Mas está nua, como na fábula “As roupas novas do rei”, do dinamarquês Hans Christian Andersen.
Falta-lhe alguém para chamá-la à realidade, pois vive um mundo de fantasia, batendo asas como uma “borboleta” entre margaridas. Poliniza o caos. Um lepidóptero do apocalipse na “cidade do sol.”
A jornalista bem-articulada, que inspirava confiança e tinha pleno domínio da palavra e da câmera, em sua TV Ponta Negra, está acuada. A abundante campanha institucional para alavancar seu governo e maquiar sua imagem parece infrutífera, porque ela já perdeu literalmente o capital de apreço, obtido em 2008. Agora procura reduzir perdas.
A recuperação parece uma utopia.

Filha do ex-senador Carlos Alberto de Sousa, Micarla é herdeira política de quem colecionou vitórias de forma meteórica, mas sem nunca ter ocupado cargo executivo. Seu pai – radialista campeão de audiência – saiu da condição de vereador em Natal, para senador da República, em pouco mais de dez anos.
Ao tentar dar o pulo do gato em 1985, com a candidatura de sua mulher Mirian de Sousa, a prefeito, contra Alves e Maia, respectivamente Wilma Maia (PDS) e Garibaldi Filho (PMDB), sofreu derrota humilhante. Garibaldi venceu e ele quase sumiu.
- Capivara fora do bando é comida de onça – definiu, certa vez, para explicar a dificuldade de sobreviver na política potiguar sem ficar à sombra de Alves ou Maia.
Carlos: carreira meteórica
 
Experiência ainda mais traumática teve a própria Micarla. Em 2010, seu marido Miguel Weber (PV) e a irmã Rosy de Sousa (PV) foram lançados a deputado estadual e deputado federal com seu apoio. Nenhum se elegeu.
Seu desempenho como “cabo-eleitoral” e liderança ficou aquém até mesmo do ex-prefeito Aldo Tinoco (1993-1996), até então uma referência negativa em termos de gestão da capital. Aldo pelo menos elegeu um irmão deputado estadual, enquanto era prefeito. E só.
Quanto à própria sucessão, Micarla é uma incógnita. Foi abandonada pelo DEM e o PR do deputado federal João Maia. A governadora Rosalba Ciarlini (DEM), também em baixa cotação perante a opinião pública, lhe oferta um apoio administrativo. Só.
A borboleta está nua e só.

Por Carlos Santos

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