Fred Raposo/Portal iG Brasília
Virtual candidato à sucessão de Maia, Alves uniu partidos da base e oposição contra o Planalto e é apontado como porta-voz da Casa
A virtual candidatura do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), à presidência da Câmara ganhou nova direção ontem após a aprovação do Código Florestal, na qual os parlamentares impuseram derrota à presidenta Dilma Rousseff, que agora deve vetar partes da proposta.
Deputados que acompanharam as negociações de bastidores, na Câmara e no Planalto, atentaram para a desenvoltura de Alves no papel de unir partidos da base e da oposição em torno do relatório de Paulo Piau (PMDB-MG), mesmo contra a vontade do governo, o que elevou o cacife do líder peemedebista para a sucessão de Marco Maia (PT-RS).
“Existe uma indisposição da Casa em ser pautada pelo Executivo. E, ao defender os interesses do Parlamento, Henrique favoreceu sua candidatura, sem dúvida”, afirma o deputado Bernardo Santana (PR-MG), designado pelo partido para acompanhar o Código Florestal.
Principal nome do PMDB para a presidência, Alves é visto como rebelde pelo Planalto. Em fevereiro do ano passado, por exemplo, o líder peemedebista bateu de frente com o então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, devido a um impasse sobre nomeação para a presidência de Furnas, feudo da legenda.
Três meses depois, nova indisposição com o governo com o governo, também relacionada à cobrança de cargos. Na ocasião, Alves disse ao iG que “os papéis com a lista de pedidos” de postos estava “amarelando” no Planalto. Em janeiro, outro desentendimento depois que Dilma demitiu da direção de uma estatal um afilhado do peemedebista, suspeito de corrupção.
A preferência do Planalto para o sucessor de Maia recai, a princípio, sobre primeira vice-presidenta da Câmara, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES). Primeira mulher a presidir o Congresso, ela reclama da falta de discussão interna no partido e já se coloca como alternativa ao líder.
No entanto, reunião da bancada do PMDB, às vésperas de o Código Florestal ir a plenário, revelou o tamanho da montanha que Rose terá que escalar se quiser ganhar o posto de Alves. Na ocasião, o líder peemedebista recebeu aclamação unânime dos correligionários pelo trabalho de articulação junto aos outros partidos.
“Quando o líder marca o rumo, e dá certo, é claro que os liderados o respeitarão mais”, ressalta Piau. Para Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Alves exerceu o posto de “porta-voz” dos partidos. “Ele não atuou apenas como líder do PMDB. Tentou conciliar a vontade de todos, tudo o que poderia”, emenda.
Um interlocutor do primeiro escalão de Dilma, que conversou com a reportagem sob condição de anonimato, avalia, contudo, que os desgastes com o Planalto deverão pesar mais na frente contra Alves. “Eles o distanciam do governo e da presidência da Casa. A eleição do presidente é feita pelos parlamentares, mas também envolve outros fatores. O governo joga mais pesado”, sublinha.
Para o deputado Silvio Costa (PTB-PE), a eleição para a Presidência da Câmara “está muito longe, e tem uma eleição municipal no meio”. Mas afirma que o Planalto não pode cobrar que o líder peemedebista “abra mão de suas convicções para atender o governo”. “A maior parte da bancada do PMDB é ruralista, e o bom líder é aquele que atende o desejo da maioria”, diz.
Alves x Chinaglia
Outra avaliação dá conta que, com a aprovação do Código Florestal, Alves ganhou pontos com os parlamentares em relação ao líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O nome de Chinaglia circula entre petistas que defendem que o partido lance nome próprio no ano que vem, para concorrer com o líder peemedebista.
No ano passado, PT e PMDB, as duas maiores bancadas da Câmara, reafirmaram o acordo para comandar a presidência da Casa. Entre 2011 e 2013, ela fica sob o comando de um petista. Depois, sob as ordens de um peemedebista. O líder do PT, Jilmar Tatto (SP), reafirmou o compromisso do partido em apoiar o candidato do PMDB para a Presidência no próximo ano.
“Esse acordo existe e vamos cumpri-lo. Quem será o candidato o PMDB é quem vai definir”, afirmou Tatto, que, apesar de reafirmar a importância do PMDB para a composição da base, destacou que o partido “liderou a derrota do governo” na votação do Código Florestal e que o governo precisa “arrumar a base”.
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